Manejo integrado de pragas de grãos armazenados: identificação e controle

 

por Oscar Smiderle

 

As perdas médias brasileiras de grãos, estimadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e pela FAO, indicam valores de, aproximadamente, 10% do total produzido anualmente. Isso representa cerca de 10 milhões de toneladas de grãos/ano. Além dessas, existem as perdas qualitativas, que são de maior importância, uma vez que comprometem o uso do grão produzido, ou o classificam para outro uso menos nobre. O ataque de pragas e insetos pode resultar em perdas de até 10% do rendimento total de grãos armazenados.

Perdas de grãos ocasionadas por pragas em armazéns, presença de fragmentos de insetos em subprodutos alimentares, deterioração da massa de grãos, contaminação fúngica, presença de micotoxinas, efeitos na saúde humana e animal, dificuldades para exportação de produtos e subprodutos brasileiros devido ao potencial de risco, são alguns dos problemas que a armazenagem inadequada de grãos produz na sociedade brasileira.

Uma das soluções para o problema de perdas ocasionadas por pragas em armazéns é o "Manejo Integrado de Pragas na Unidade Armazenadora de Grãos- MIP". O MIP consiste em tratamento preventivo, com base no preparo dos armazéns para receber os grãos. Muitas pragas se reproduzem na poeira e resíduos de grãos, causando prejuízos que podem ser evitados através de um processo de higienização, constituído de uma limpeza comum que usa apenas mão-de-obra, vassoura, aspirador e água. O mercado está cada vez mais rigoroso para com os padrões de qualidade.

Manejo para redução de perdas de grãos armazenados compreende etapas, tais como:

- Mudança de comportamento dos armazenadores: é a fase inicial e mais importante do processo, no qual as pessoas responsáveis que atuam na unidade armazenadora de grãos têm de estar envolvidas. É necessário que todos que lidam com o grão propriamente dito ou não, participem do processo. Nessa fase, o alvo é conscientizar sobre a importância de pragas no armazenamento e seus danos diretos e indiretos.

- Conhecer a unidade armazenadora de grãos: conhecida em todos os detalhes, por operadores e administradores, desde a chegada do produto à recepção até a expedição, após o período de armazenamento. Essa inspeção deve identificar e prever pontos de entrada e abrigo de pragas dentro do sistema de armazenagem. Nessa fase também deve ser levantado o histórico do controle de pragas na unidade armazenadora nos anos anteriores, identificando problemas passados.

- Limpeza e higienização da unidade armazenadora: o uso de simples equipamentos de limpeza, como vassouras, escovas e aspiradores de pó em moegas, túneis, passarelas, secadores, fitas transportadoras, máquinas de limpeza, elevadores, nas instalações da unidade armazenadora representa os maiores ganhos deste processo. A eliminação dos focos de infestação dentro da unidade permitirá o armazenamento sadio. Após essa limpeza, o tratamento periódico de toda a estrutura armazenadora, com inseticidas protetores de longa duração, é uma necessidade para evitar reinfestação de insetos nesses.

- Identificação de pragas: da identificação dependerão as medidas de controle a ser tomadas e a conseqüente potencialidade de destruição de grãos. As pragas em grãos armazenados podem ser divididas em dois grupos de maior importância econômica, que são besouros e traças.

- Potencial de destruição de cada espécie-praga: devem ser entendidos, pois determinam a viabilidade de comercialização desses grãos armazenados.

- Proteção do grão com inseticidas: depois de limpos e secos, e se houver armazenamento por períodos longos, os grãos podem ser tratados preventivamente com inseticidas protetores, de origem química ou natural. Esse tratamento visa garantir a eliminação de pragas que infestam o produto durante o armazenamento. No caso de inseticidas químicos, para proteção de grãos às pragas S. oryzae e S. zeamais, indica-se o uso de inseticidas organofosforados, uma vez que tais produtos são específicos para essas espécies-praga. Já para R. dominica, os inseticidas indicados são os piretróides.

- Tratamento curativo: sempre que houver presença de pragas na massa de grãos, deve-se fazer expurgo, usando produto à base de fosfeto de alumínio (fosfina). Esse processo deve ser realizado em armazéns, em câmaras de expurgo, ou outros locais, sempre com vedação total, observado o período mínimo de exposição de quatro dias.

- Monitoramento da massa de grãos: o acompanhamento da evolução de pragas, durante o período em que permanecerem armazenados, que ocorrem na massa de grãos armazenados é de fundamental importância, pois permite detectar o início da infestação que poderá alterar a qualidade final do grão. Esse monitoramento tem por base um eficiente sistema de amostragem de pragas e a medição de variáveis, como temperatura e umidade do grão, que influem na conservação do produto armazenado. Permite direcionar a tomada de decisão do armazenador, para garantir a qualidade do grão.

O inseto-praga mais comum constatado em grãos de arroz armazenados em Roraima é o gorgulho (Sitophilus spp.) seguido do besourinho (Rhizopertha dominica), insetos que estragam mais grãos do que precisam para se alimentar. No entanto, o inseto não sobrevive em ambientes limpos. O controle é facilitado quando a ação é preventiva, isto é, com o inseto eliminado do armazém antes da entrada dos grãos, pois a quantidade que pode vir do campo é reduzida.

A utilização incorreta de agroquímicos para o controle das pragas pode comprometer a qualidade dos grãos. O MIP Grãos adequado reduz a quantidade de inseticidas químicos a serem utilizados, em Roraima e no Brasil, nas aproximadamente 100 mil toneladas de grãos armazenados anualmente.


Oscar Smiderle concluiu o doutorado em fitotecnia pela Universidade de São Paulo em 1998. Atualmente é Pesquisador III da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. De setembro de 2003 a outubro de 2005 exerceu o cargo de Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento.  Atua na área de Agronomia, com ênfase em Produção e Beneficiamento de Sementes. Os temas abordados em sua área de atuação são: cerrado, soja, Roraima, qualidade de sementes, sementes de soja, produtividade, micronutrientes, armazenamento agrícola, tratos culturais, cultivares de soja, girassol, amendoim, pinhão manso e mamona.

Contato: ojsmider@cpafrr.embrapa.br



Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):

SMIDERLE, O. Manejo integrado de pragas de grãos armazenados: identificação e controle. 2007. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2007_2/PragaGraos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no Infobibos em 21/05/2007

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