Estudo da
Utilização do Fogão Solar Tipo Caixa a Partir da Substituição da
Lenha na Matriz Energética Brasileira
Johnson Pontes de Moura
1. Considerações Iniciais A discussão na comunidade científica sobre os males que a ação antrópica provoca sobre o meio ambiente anda bastante avançada. Já foi bastante discutida a reação adversa dos compostos de CFC, provocando o buraco da camada de Ozônio, bem como o estudo frente a compostos de enxofre, provocando a chuva ácida. Atualmente, ganha força a investigação do aumento da emissão contínua de dióxido de carbono e metano na atmosfera, estimulando ainda mais o efeito estufa, ocasionando um aquecimento em nível global. Neste último ponto, as pesquisas referentes a emissão de gases do efeito estufa (GEE) decorrido das atividades industriais e mesmo queimadas são bastante conhecidas. A citar em nosso país o conhecimento desde 1994 que as queimadas e/ou desmatamento da floresta Amazônica, que corresponde por cerca de 75% da emissão de dióxido de carbono, representando em massa 776 gigatoneladas anuais desse gás (Informe Ambiental, 2007). Esta quantidade de emissão faz com que o Brasil ocupe a 4ª posição entre os emissores de GEE. Quando não levada em consideração o país se posiciona em 18º (Combatendo as causas das Mudanças Climáticas, 2007). No entanto, dentre as queimadas que vigoram em nosso país, a queima da lenha para cocção de alimentos corresponde por 29,3% do total da lenha produzida, o que corresponde a 26.564*103 toneladas, fazendo com que, dentro da matriz energética residencial brasileira, esse valor seja de 38% para dados de 2005 (Balanço Energético Nacional, 2006). Em termos globais, a queima da lenha para cocção de alimentos atinge 2,5 bilhões de pessoas, dos quais 23 milhões são brasileiros (World Energy Outlook, 2006). O uso da lenha para cozinhar dentro de casa leva a morte de 1,6 milhões de pessoas devido a poluição em ambientes internos (Organização Mundial da Saúde, 2005). O fogão solar, uma tecnologia social capaz de cozer alimentos utilizando apenas a energia do Sol, pode prover a substituição, mesmo que parcial, desse consumo de lenha tão amplo.
No presente trabalho, procura-se mostrar a partir de uma revisão da
literatura como o equipamento solar tipo caixa pode contribuir como
medida mitigadora frente a emissão de GEE, analisando a contribuição
do dióxido de carbono proveniente da contribuição da lenha.
2.
Justificativa e Relevância do Trabalho Desde muito tempo as comunidades rurais do Brasil e principalmente as do nordeste sofrem com a falta de infra-estrutura básica. No Rio Grande do Norte onde existem comunidades rurais isoladas serão implantadas fogões solares do tipo caixa e o pessoal treinado para a construção dos fogões solares de baixo custo, para fins de geração de emprego e renda com beneficio direto e indireto para o município.
Serão frutos deste estudo
construções de protótipos de fogões solares que empregam fontes
alternativas de energia para as comunidades carentes, utilizando
materiais de baixo custo orçamentário, para a melhoria das condições
de vida da população rural (econômica, social, educacional, saúde,
conforto). Este
trabalho trará uma efetiva solução para diversas famílias, seja pelo
baixo custo de construção e montagem do fogão seja pela economia que
ele proporciona ao consumo de energia, com relação ao gás de
cozinha. Tudo isso
aliado a uma conscientização ecológica com o uso de materiais
compósitos, descartados ou encontrados em sucatas cuidando assim da
região onde vivem. O trabalho também apresentará uma boa
contribuição científica e poderá servir como fonte de pesquisa para
desenvolvimento de novas formas de energias limpas e renováveis.
3.
Revisão da Literatura e Análise dos
resultados Fogões solares se dividem em três grupos: os parabólicos, de painel e o tipo caixa (como mostrados nas figuras 1 e a tabela 1). Este último foi feito enquanto objeto de análise na dissertação (Moura, 2007), por possuir melhores resultados dentre os tipos analisados. O fogão solar tipo caixa funciona com o princípio do efeito estufa, onde o calor é retido em uma caixa, visando a cocção de alimentos.
Nos fogões 01 e 03 foi possível atingir a temperatura de 90 ºC, após
um tempo de 2 h 50 min e 1h 10 min respectivamente. A temperatura
máxima atingida no fogão 02 foi 53 ºC e no fogão 04 foi 85 ºC.
O fogão 01 funcionou a contento, com um rendimento próximo ao
encontrado na literatura conforme apresentado na tabela 3.2. O fogão
02 teve um rendimento muito baixo. Apesar de sua grande superfície
coletora, o fogão 02 possui também uma grande superfície de perda de
calor. Além disto, sua construção não foi muito esmerada, existindo
perdas de calor pela junção dos dois vidros. A grande inclinação dos
espelhos em vez de direcionar a radiação para a panela provocou a
reflexão de parte da radiação para o exterior.
O fogão concentrador parabólico 03 funcionou a contento. O bom
acabamento da superfície refletora concentrou os raios solares no
fundo da panela com precisão. Como somente o fundo da panela foi
aquecido, as perdas térmicas para o meio ambiente foram menores. O
uso de uma panela de fundo preto e superfícies laterais polidas
poderiam minimizar ainda mais as perdas térmicas por radiação.
O fogão concentrador cônico por sua vez concentra a radiação na
superfície lateral da panela. Quanto maior for a radiação, maiores
as perdas térmicas para o meio ambiente. O uso de panelas com
superfícies laterais negras aumentam a absorção da radiação solar e
aumenta as perdas térmicas para o meio ambiente. O uso de panelas
com superfícies laterais polidas diminuem consideravelmente a
absorção da radiação solar. Além disto, como a construção também não
foi esmerada, o foco não ficava totalmente sobre a panela.
Nos dois fogões concentradores verifica-se que é muito importante o
posicionamento correto da panela em relação ao foco. Caso a panela
fique fora do foco, não se consegue um funcionamento satisfatório.
4.
Considerações Finais
Este artigo, além de apresentar relevância no contexto energético de
inclusão social para as comunidades carentes, apresenta uma
contribuição acadêmica no que tange à modelagem de processos de
cocção dos alimentos estudados neste trabalho de pesquisa para o
fogão solar proposto. O fogão solar traria para si a
responsabilidade de minimizar apenas uma pequena porcentagem do que
é continuadamente lançado na atmosfera, o que na verdade já é um
grande passo, uma vez que podemos imaginar a um grande êxito a
partir de uma série de conjunto de pequenas medidas.
Resumo
No contexto dos dados da matriz energética brasileira apontam
para a necessidade de massificar o uso do fogão solar para o
cozimento de alimentos, como forma de preservação da natureza, e
contribuição para amenizar o desequilíbrio ecológico pelo uso
indiscriminado da lenha, além do fato de minimizar a emissão de
gases poluentes para a atmosfera. Como se podem ver, estudos que
viabilizem o uso do fogão solar, através da otimização do seu
processo de construção e dos níveis de temperatura gerados, bem
como a melhoria do conforto de quem o utiliza, devem ter
prioridade e são imprescindíveis para uma política de combate ao
desequilíbrio ecológico, que amenizem a matriz energética,
contribuam para a fixação do homem no campo e possa dar-lhe uma
opção de geração de renda, através do domínio da construção de
fogões solares, para sua futura comercialização.
Palavras-chave:
fogões solares, energia, matriz energética.
5.
Referências
IPC,2001.
Climate Change 2001 (3 vols). United Nations
Intergovernmental Panel in Climate Change. Cambridge University Press, UK. (available from
www.ipcc.ch).
Johnson
Pontes de Moura
é Engenheiro Químico, DOUTORANDO
Dados para citação bibliográfica(ABNT): MOURA, J.P. de. Estudo da Utilização do Fogão Solar Tipo Caixa a Partir da Substituição da Lenha na Matriz Energética Brasileira. 2011. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2011_4/FogaoSolar/index.htm>. Acesso em:Publicado no Infobibos em 02/11/2011 |