Tecnologias para produção em Terras
Baixas apresenta atenção aos impactos ambientais
Dia de campo mostra
como a cultura orizícola pode evitar o aquecimento global O
tradicional Dia de Campo de
Produção em Terras Baixas da Embrapa , que será realizado em 1º
de março, na Estação Experimental Terras Baixas, no Capão do Leão/RS
prepara-se para receber produtores de arroz das mais diversas
regiões do Estado. Quatro estações serão montadas e diversas
tecnologias serão apresentadas pela equipe. A parte da manhã está
reservada para aquisição de conhecimentos, esclarecer dúvidas e
receber orientações. O diferencial neste ano são tecnologias para
produção de arroz irrigado atentas aos impactos ambientais, através
da diminuição de uso de insumos, fixação de nitrogênio,
acompanhamento na emissão de gases efeito estufa e reaproveitamento
de recursos naturais, como a água de irrigação na aplicação de
produtos químicos.
Esta edição do dia de campo vai ainda destacar
o esforço da pesquisa em realizar o melhoramento genético de arroz
irrigado ao reforçar as características agronômicas e o manejo das
três últimas cultivares lançadas:
BRS
Querência, BRS Sinuelo CL e BRS Pampa e a linhagem AB11047
– chamado comumente de
arroz gigante – uma
nova fonte para uso na alimentação animal e para produção de etanol.
Os trabalhos demonstram que a
BRS
Querência é precoce, levando cerca
de 110 dias à maturação completa, folhas e grãos lisos, colmos
fortes e média capacidade de perfilhamento. Tem panícula longa, com
grande número de grãos. O rendimento industrial é elevado e tem alta
qualidade culinária. De acordo com o pesquisador Ariano Magalhães
tem apontado uma produtividade superior a 11 toneladas de grãos
secos e limpo por hectare.
A cultivar
BRS
Sinuelo CL é um retrocruzamento
entre a cultivar comercial BRS-7 Taim e a a linhagem americana
AS3510, fonte de resistência ao herbicida Only. Possui ciclo médio,
alta capacidade de perfilhamento, boa resistência ao acamamento e às
doenças. Os grãos são do tipo longo-fino, de casca lisa e adequada
qualidade industrial. “ A sua produtividade é superior a 8,3
toneladas de grãos secos e limpo por hectare”, comentou Ariano.
Do cruzamento entre as cultivares IRGA 417 e
BRS Jaburu surgiu a
BRS Pampa, de
ciclo precoce, em média com 118 dias à maturação completa, tem
também alta capacidade de perfilhamento, mas poussui folhas pilosas.
É do tipo agulhinha – longo-fino – com textura solta e macia após o
cozimento. Ela apresentou de 10 a 15% maior produtividade que os
experimentos testemunhas, mostrando um potencial produtivo superior
a 12 toneladas de grãos secos e limpos por hectare. “Nesta safra, a
cultivar está sendo multiplicada para produção de sementes
certificadas por produtores licenciados no Estado, estima-se que
estarão à disposição dos orizicultores cerca de 40 mil sacos de
sementes”, informou o pesquisador.
Quanto a linhagem
AB11047, apelidada de
arroz
gigante, possui um ciclo biológico
de 126 dias, grãos grandes com alto conteúdo de amido e alta
produtividade. É resistente as principais doenças do arroz e ao
degrane. “Produz 52g de peso médio de mil sementes, enquanto que a
maioria das cultivares de arroz irrigado apresentam peso médio de
25g”, chama a atenção Ariano. Segundo ele, esta linhagem foi uma
demanda do setor arrozeiro e da cadeia produtiva do etanol para
apresentar uma variedade que não atenda essencialmente o mercado
industrial, mas um nicho de mercado da agroenergia. Para a
produção de etanol, as pesquisas com arroz tem demonstrado a
viabilidade do cultivo desta linhagem, que encontra-se no segundo
ano de estudo de Valor Cultivo de Uso (VCU), sendo testada em seis
localidades, e produzindo em média 420 litros de etanol em uma
tonelada de grãos. “Isto demonstra que o arroz pode ser mais
vantajoso que a cana-de-açúcar”, comenta Ariano. Ao que tudo indica,
o pesquisador vem participando de discussões que levam a crer que
apenas 10% da área de plantio destinada ao arroz para produção de
etanol será utilizada no Estado, a fim de que o alimento seja
ofertado em maior produção para o consumo humano, e
consequentemente, diminuindo os custos do cereal presente na maioria
das mesas gaúchas e do país.
Como foi enfatizada sua contribuição na
alimentação animal, a produção desta linhagem de arroz é esperada
pelos resultados de produção - já que é bem superior ao comparar-se
com outras variedades -
seja
indicada na elaboração de ração e silagem animal. “Já que ela tem se
mostrado com qualidade para esse fim. Como os estudos ainda estão em
teste, esperamos a oferta do material para inserirmos nos nossos
experimentos”, confirmou o pesquisador Jorge Schafhauser Júnior. Ele
conduz em parceria com o IFSul-CAVG e a UFPel a substituição do
milho pelo arroz na alimentação dos animais. “A conclusão é que se
pode substituir 100% do milho pelo arroz”, afirmou. Os estudos
feitos com variedades de arroz em maior oferta no mercado, e
especialmente a BRS Querência, têm sido usadas na ração e silagem de
galinhas poedeiras, frangos de corte e cordeiros. “Vimos que nos
cordeiros, a ração a base de arroz acelera a terminação dos animais
e confere características organolepticas – suculência, sabor, aroma,
maciez – à carne desejáveis ao mercado”, explicou Jorge. Com isso,
as cultivares de arroz entram como opção para integração
lavoura-pecuária em terras baixas e a linhagem
gigante,
especificamente,
com a possibilidade de riqueza de
energia na produção agrícola.
Emissão
de gases de efeito estufa Uma das
pesquisas a ser apresentada no dia de campo como diferencial é o
acompanhamento na emissão de gases de efeito estufa (GEE) – dióxido
de carbono, metano e óxido nitroso - associados à lavoura de arroz,
cujo ação provoca um aumento na temperatura média do planeta, o que
vem sendo chamado de aquecimento global. Na atividade orizícola, os
estudos sobre gases de efeito estufa ainda são relativamente
recentes; baseiam-se na apresentação de técnicas de manejo da
cultura, particularmente sistemas de preparo do solo e regimes de
irrigação, que mitiguem a emissão desses gases, visando a
sustentabilidade econômica e ambiental.
Para
a pesquisadora envolvida no trabalho, Walkyria Bueno Scivittaro, a
atividade orizícola, essencial para o agronegócio no Estado, e a
criação de animais ruminantes são as principais fontes emissoras de
metano. “A literatura científica nos indica que o óxido nitroso e o
metano são emitidos em menores quantidades do que o dióxido de
carbono, porém eles apresentam um potencial de aquecimento 298 e 25
vezes, respectivamente, maior do que o dióxido de carbono”, ressalta
Walkyria. Segundo
ela, a pesquisa demonstra que a contribuição da atividade
agropecuária ocorre principalmente pela mudança de uso da terra, o
cultivo do arroz irrigado, a criação de ruminantes, o uso de
fertilizantes minerais nitrogenados e pela decomposição da matéria
orgânica do solo. No caso da cultura do arroz, o sistema tradicional
de irrigação por alagamento contínuo favorece a emissão do metano.
Por essa razão, seu grupo de trabalho está lançando mão de manejos
alternativos da água, envolvendo a redução no período de irrigação,
eliminação da lâmina de água e irrigação intermitente, entre outros,
os quais têm apresentado eficiência na redução das emissões do
metano. “O manejo da água é uma das práticas mais importantes na
produção de arroz e mais promissoras à mitigação das emissões de
metano”, considera. Os
interessados em conhecer mais sobre os GEE e as alternativas
trabalhadas pela pesquisa agropecuária para que o Rio Grande do Sul
não ocupe os números de 50% das emissões regionais – cerca de 47,3
Tg de equivalente de gás carbônico – podem participar do dia de
campo.
Cristiane Betemps Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): BETEMPS C.; Tecnologias para produção em Terras Baixas apresenta atenção aos impactos ambientais. 2013. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_1/impactos/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 26/03/2013 |