Mais agricultores familiares do AM querem produzir guaraná
Cenário econômico favorável ao mercado de guaraná desperta o
interesse de produtores para ingressar nessa cadeia produtiva no
estado do Amazonas. Estudo feito pela Embrapa Amazônia Ocidental
para prospecção de demandas de tecnologias agropecuárias identificou
o interesse de novos produtores rurais do município de Itacoatiara
(AM) em produzir guaraná. Atualmente o Amazonas é o segundo produtor
do País e os principais municípios produtores são Maués, Presidente
Figueiredo, Urucará, Boa Vista do Ramos, Parintins e, inclusive,
Itacoatiara.
O principal atrativo é o cenário econômico favorável ao mercado de
guaraná, que é importante insumo para indústrias de refrigerantes,
farmacêuticas, químicas e de cosméticos. No Amazonas, o extrato
concentrado do guaraná está entre os produtos que lideram no valor
das exportações da Zona Franca de Manaus.
Atualmente existe tecnologia para cultivo e demanda aquecida em
busca do produto. De acordo com o pesquisador da Embrapa Amazônia
Ocidental, André Atroch, a indústria de refrigerantes e sucos é
atualmente o grande mercado para o guaraná e a demanda vai continuar
crescendo. Somente a demanda da indústria de refrigerantes sabor
guaraná cresce em média 3% ao ano e está em torno de 3 bilhões de
litros anuais, informa André. A quantidade mínima de extrato de
guaraná por litro de refrigerante é de no mínimo 0,02 gramas por
litro. “Considerando esses dados, percebe-se facilmente que a
quantidade de guaraná produzida hoje no Brasil não atende a demanda,
e que os plantios poderiam ser ampliados sem problemas de
superprodução”, avalia.
Existem vários segmentos promissores para exploração econômica do
guaraná como fonte de cafeína. Esse mercado não está sendo atendido
plenamente pela cafeína natural do guaraná porque a produção ainda é
insuficiente. Entre eles está a indústria farmacêutica, que tem
utilizado o guaraná em diversos produtos; outro setor é a indústria
de bebidas energéticas, que já tem formulado produtos que contêm o
guaraná.
Um dos fatores que despertam o interesse dos produtores do município
de Itacoatiara na cultura do guaraná são as atuais condições de
preço. Alguns produtores do município que já cultivaram guaraná no
passado, há cerca de 20 anos, e deixaram a atividade, agora querem
retomar, e outros querem ingressar pela primeira vez nessa produção.
No estudo “Avaliação de viabilidade econômica de produção de guaraná
no município de Itacoatiara-AM”, coordenado pelo pesquisador da
Embrapa Amazônia Ocidental, José Olenilson Pinheiro, foram
entrevistados 32 produtores de 15 comunidades da área rural de
Itacoatiara. Desse total de entrevistados 94% está interessado em
plantar guaraná. Dentre esses produtores, 53% já plantaram guaraná
no passado e 47% nunca plantaram. Outro dado importante é que 69%
dos produtores entrevistados informaram que não recebem assistência
técnica e outros 31% contam com assistência técnica.
O pesquisador da Embrapa Amazônia Ocidental, José Olenilson
Pinheiro, relaciona como pontos fortes atualmente para a cultura do
guaraná: a demanda aquecida e a disponibilidade de tecnologias pela
Embrapa.
Entre os resultados de tecnologia da Embrapa para essa cultura
existem informações que orientam o sistema de produção e cultivares
de guaranazeiro que são mais produtivas que a média regional. Já
foram lançadas 16 cultivares. As mais recentes são quatro (BRS
Cereçaporanga, BRS Andirá, BRS Mundurucânia e BRS Luzeia). Neste ano
de 2013 a Embrapa Amazônia Ocidental pretende lançar mais duas novas
cultivares de guaranazeiro (BRS Saterê e Marabitana). Todas têm como
vantagens a alta produtividade e a resistência genética à
antracnose, principal doença que ataca o guaranazeiro no Amazonas.
As cultivares de guaranazeiro permitem produtividade em seis vezes
mais que a média regional e resistência às principais doenças que
afetam esses cultivos.
Porém, existem desafios a serem superados para viabilizar a
produção. Um deles é organizar a cadeia produtiva. “Os agricultores
reclamam assistência técnica e apoio na comercialização, e também de
crédito para iniciar o cultivo”, explica Olenilson.
A formação do plantio leva dois anos com o início da produção no
terceiro ano. Assim, a maioria dos agricultores precisaria de
crédito para investir no cultivo de guaraná. Dentre os
entrevistados, 78% possui renda média mensal entre um a três
salários mínimos, e mesmo somando com os que ganham um pouco mais se
chega a uma a maioria (97 %) que tem renda média mensal abaixo
de cinco salários mínimos. A origem dessa renda vem em maior parte
(94%) da agricultura.
O pesquisador Olenilson explica que com o uso de informações
técnicas decorrentes da pesquisa da Embrapa, o agricultor com
investimento de R$ 12 mil em um hectare com 400 plantas de guaraná
consegue obter um rendimento de 600 quilos por hectare, com uma
produtividade média por planta de 1,5 kg. O preço médio do quilo
atualmente pago ao produtor é de R$ 25,00 e o faturamento médio,
após o terceiro ano é de R$ 15 mil, ou seja, o produtor obtém o
retorno do capital investido logo na primeira safra. Isto representa
um incremento líquido de R$ 3 mil na renda do agricultor em cada
safra. “Isso mostra que usando corretamente as tecnologias da
Embrapa com os tratos culturais adequados, essas tecnologias
são viáveis economicamente para o agricultor familiar, isso
principalmente porque o guaraná pode ser consorciado com outros
tipos de culturas”, afirma Olenilson.
O objetivo do estudo “Avaliação de viabilidade econômica de produção
de guaraná no município de Itacoatiara-AM” foi analisar a dinâmica
socioeconômica da agricultura familiar em comunidades do município
de Itacoatiara, buscando identificar fatores que representam
barreiras e potencialidades à produção de guaraná como alternativa
de renda para os produtores locais. Foram analisados fatores limitantes e potencializadores, considerando aspectos do contexto socioeconômico do entorno, a infraestrutura básica, os sistemas de produção, a organização produtiva, assistência técnica e organização política. As informações do estudo destinam-se a gerar subsídios para contribuir na elaboração de politicas de desenvolvimento local e auxiliar na tomada de decisão visando melhorias para as comunidades rurais.
Síglia Souza Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): SOUZA. S.; Mais agricultores familiares do AM querem produzir guaraná. 2013. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2013_2/guarana/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 22/08/2013 |