Para conhecer sua propriedade comece pela amostragem de solo
O solo é um recurso natural renovável, em estado estacionário já que
sua formação é muito lenta e acontece ao longo de milhares de anos,
fundamental para os ecossistemas, em especial, o agrícola. Em uma
visão holística pode ser considerado um patrimônio coletivo, pois
seu uso equivocado leva à degradação química, física e biológica,
erosão e, em casos mais extremos, desertificação, atingindo centenas
de pessoas.
A amostragem de solo é a primeira etapa de um programa de avaliação
da fertilidade do mesmo. A operação é crucial, uma pequena
quantidade de terra representará as características de uma grande
área. Assim, apesar de a avaliação laboratorial ser mais elaborada,
instrumental e operacionalmente, ela não corrige uma coleta
deficiente capaz de comprometer os processos seguintes.
“O maior erro dos resultados está na amostragem e se isso acontecer,
o laboratório não tem muito a fazer, nem os técnicos que vão
recomendar a adubação e correção do solo, porque vão trabalhar em
cima de resultados advindos de uma amostragem de solo incorreta ou
mal planejada”, destaca o pesquisador da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária – Embrapa, doutor em Ciência do Solo,
Alexandre Romeiro de Araújo.
Produtor e colaboradores estão aptos a realizar a amostragem. O
procedimento inicia-se com a identificação de glebas homogêneas para
a coleta. Cor do solo, topografia, histórico de uso, textura e
vegetação são fatores que o operador consegue identificar,
facilmente, para separar a terra em talhões semelhantes. “Para a
pecuária extensiva, reconhecidamente com propriedades de maiores
proporções, recomenda-se que a área a ser amostrada não ultrapasse
30 hectares. Para usos mais intensivos, estejam eles sob pecuária,
lavoura ou sistemas integrados de produção, recomenda-se que a gleba
a ser amostrada seja em torno de 10 hectares, desde que atendam a
identificação de homogeneidade. No entanto, o bom senso e os estudos
caso a caso não devem ser deixados de lado”, aconselha Alexandre
Araújo.
Na realização da amostragem, o responsável pelo procedimento
representará toda a área fazendo várias amostras simples, entre 20 e
30, para tirar uma composta. “Vale lembrar que a amostra composta,
que pesará em torno de 500 gramas, representa uma área de 20 a 30
hectares”, reforça. O pesquisador enfatiza ainda que formigueiros,
cupinzeiros, locais de descanso de gado, depósitos de adubos e
calcários, regiões próximas a terraços, estradas e trilhas são
pontos a desconsiderar em uma coleta.
Equipamentos como trado holandês, de caneco, sondas e até mesmo uma
pá de corte ou um enxadão são opções à disposição, desde que estejam
limpos, secos e sem resíduos. O técnico retira as amostras, evitando
ao máximo a contaminação, em diferentes profundidades, por
caminhamento aleatório em ziguezague, ressaltando que quanto maior a
gleba, maior o número de pontos amostrais, os quais precisam estar
livres de resíduos culturais não decompostos e outros materiais, e
as deposita em um balde de plástico, também higienizado. “Há no
mercado amostradores hidráulicos e automatizados que podem ser
acoplados em triciclos e veículos automotores utilizados na
agricultura de precisão. Quando a área e o volume de amostras forem
grandes a utilização desses equipamentos talvez seja viável, porém a
grande maioria é realizada com trado”, observa.
Para a implantação de um pasto, as profundidades recomendadas para
amostragem, segundo Alexandre Araújo, são de 0 - 20 cm e 20 - 40 cm.
No entanto, para uma melhor avaliação da fertilidade, amostras
adicionais de 40 a 60 e 0 a 10 cm são indicadas em algumas ocasiões.
O especialista explica que “especificamente para área de pecuária,
depois de implantada a forrageira, com um bom manejo de pastagens,
muito dificilmente o pecuarista terá oportunidade de revolver o solo
novamente e a aplicação dos corretivos e fertilizantes será
realizada em superfície. Nesses casos, a amostragem de 0 - 10 cm
pode contribuir para a avaliação da qualidade química do solo, isso
por que alguns nutrientes de plantas são pouco móveis no solo e
tendem a se concentrar na superfície quando a aplicação de
fertilizantes é realizada a lanço”.
As amostras são identificadas com dados referentes à profundidade,
época da coleta, nome da gleba, histórico da área, uso atual e
últimas aplicações de insumos e encaminhadas em embalagem, na
maioria das vezes fornecida pelo laboratório, para uma instituição
credenciada para análise, frisando que “toda informação adicional é
importante na avaliação da fertilidade e colabora para uma correta
interpretação dos resultados”.
Grandes detalhes
- Uma época exata para se realizar a amostragem de solo não existe,
entretanto, para áreas de pastagens, a partir do final de março ou
início de abril tem-se uma situação em que a terra ainda está com
certo teor de umidade, o que facilita a retirada e homogeneização.
Em lavoura ou sistemas integrados de produção, aconselha-se a
operação após a colheita da segunda safra.
“Apesar de mais tardia, a amostragem após a safrinha indicará a
condição química do solo antes do plantio da próxima safra de verão.
Realizando as amostragens nessas épocas, o produtor terá os
resultados de laboratório em mãos em julho/início de agosto, além de
tempo hábil para a aquisição de corretivos e fertilizantes, baseados
em análises laboratoriais”, esclarece o pesquisador da Embrapa. Em
relação à frequência, conforme Araújo, assim como a época, não há
uma programação específica e dependerá do manejo da propriedade e da
intensidade em que são feitas as adubações. Vale a lógica: sistemas
de produção mais intensivos, frequência maior; menos intensivos,
frequência menor.
Todavia, nem sempre o problema da qualidade do solo é a fertilidade,
lembra Alexandre Araújo. Deficiências relacionadas às propriedades
físicas, como aumentos excessivos na densidade do solo, selamento
superficial, maiores valores de resistência à penetração e
dificuldades de infiltração de água, podem ocorrer. Nesse cenário, a
aplicação de corretivos e fertilizantes talvez não cause o impacto
almejado, sendo necessária a utilização de práticas de manejo para
minimizar os efeitos negativos da degradação física. Desta forma, a
adoção de rotação de culturas e o uso de implementos,
como subsoladores e escarificadores,
são alternativas a considerar.
Esses equipamentos elevam a rugosidade da terra, diminuindo a
compactação por meio do rompimento de camadas encrostadas em
superfície e subsuperfície, aumentando a porosidade, sobretudo a
macroporosidade, facilitando a infiltração de água.
“As análises físicas são complementares, porém não menos
importantes. Dependendo do pasto e de sua degradação somente ajustar
a adubação não seja o suficiente para conseguir ganhos de
produtividade consideráveis. A lotação animal excessiva sobre uma
determinada área, ao longo dos anos, causa degradação física e
problemas de conversação do solo. O mau manejo não resulta só em
degradação do pasto, mas também do solo”, adverte Araújo.
Pesquisas
– Desde 2012, o pesquisador da Empresa coordena o projeto “Práticas
de cultivo e rotação de culturas para avaliar a qualidade do solo em
diferentes sistemas de manejo no Sudoeste dos Cerrados”, financiado
pela Embrapa e Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino,
Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul (Fundect), com
experimentos na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande-MS, em três
sistemas de cultivo, lavoura contínua, cultivo conservacionista e
plantio direto.
Alexandre Araújo e equipe avaliam as diferentes práticas de preparo
da terra, associadas à rotação de culturas, em diversos sistemas,
levantando informações relativas às características químicas e
físicas, indicadores de qualidade, medidas de resistência à
penetração, do conteúdo de água no solo, dentre outras.
Até o próximo ano, o grupo de solos da Embrapa Gado de Corte, espera
compreender melhor essas diferentes práticas de preparo, bem como, a
utilização de índices que possibilitem deduções sobre a qualidade e
sustentabilidade do solo. Dalízia
Aguiar Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte Dados para citação bibliográfica(ABNT): AGUIAR D.; Para conhecer sua propriedade comece pela amostragem de solo 2014. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2014_1/solo/index.htm>. Acesso em: Publicado no Infobibos em 07/05/2014 |